Um professor
meu de direito tributário diz que a vida é cheia de incertezas, mas que às
únicas certezas são a morte e o pagamento de imposto. A esse rol, tomei a
liberdade de acrescentar as provas para as faculdades, o carnaval e as chuvas
de inverno, mas estas últimas, sempre agradáveis para a natureza, mas nem
sempre tão agradáveis àqueles em situação de vulnerabilidade social. Há poucos dias,
o prefeito do Rio Marcelo Crivella atribuiu à culpa dos deslizamentos nas
encostas dos morros em época de chuva, aos próprios moradores. Vamos lá, qual a
função primordial do Estado? Nesse caso a falha está, mais uma vez, na educação
- a falta dela -. Falo daquela de conscientização, campanhas alertando a
população sobre os riscos nas encostas, através de folhetos, parcerias com
escolas, igrejas e associações, afim de alcançar o maior número de pessoas e por
fim, mas o início de tudo, àquela educação dos bancos escolares, pois se os
moradores tivessem tido uma condizente às necessidades sócias, saberiam agir de
forma diferente. É muito cômodo dizer que o “carro” perdeu e controle e bateu
por culpa dos pneus, ao invés de atribuir a culpa ao “proprietário” do veículo
que não fez a manutenção “periódica” do veículo.
Antes mesmo de coexistirmos
com a natureza, as chuvas já eram (e são) o meio natural de renovação da vida
nestas pradarias tropicais. A ocupação humana teve de se adequar à sazonalidade,
caso quisesse viver em harmonia, mas esta preocupação tem sido esquecida pelas
autoridades de nossas cidades. Ano vai, ano vem e é a mesma história: as chuvas
deixam centenas de desabrigados e até levam vidas juntos com sua enxurrada. Pode até presunçosamente pensar que isso é de
agora, devido à ocupação desenfreada de morros, florestas e barrancas, que tem
aumento, mas não é, não! Ainda esta semana ouvi a declaração de um grande jornalista
que disse que essas catástrofes anunciadas acontecem há mais de 50 anos e os
governos e prefeituras continuam a tratar como se fosse uma novidade: queda de
barracos, enchentes nas cidades e o sofrimento dos desabrigados, os quais em
muitos casos, não tendo onde morar, permanecem arriscando a própria vida em
moradias nas encostas ou à margem de igarapés e braços de rio, os quais diante
do grande volume das chuvas, transbordam e levam tudo o que encontra pela
frente, de forma fria e natural que ela é, mas já ocorrem há muito tempo.
Sou da região
Amazônica, onde as cidades são transpassadas por igarapés e braços de rio, cortando
a cidade de ponta a ponta, mas nem mesmo por essa vantagem se está livre das intempéries
que a estação das chuvas causa. E aqui também não é diferente. Todos os anos o
governo tem de prestar ajuda aos ribeirinhos que têm de suas propriedades cobertas
pelas águas. Governo e município se unem para prestar socorro às famílias, que
passado o período, voltam a morar na mesma região, mas na esperança que no ano
seguinte seja diferente, com chuvas mais fracas e alagamentos menores.
Essa catástrofe
que assistimos hoje serão mais frequentes por conta do aquecimento global; ocupação
desenfreada; ações sociais de curto prazo, do poder público para a população...
Enfim, o ciclo não será quebrado se não se for levada a sério a educação desses
moradores que residem nessas regiões mais frágeis às chuvas. E que essa
educação se estenda a seus governantes, que ao invés de culparem os afetados,
deveriam olha para seus “tentáculos” e detectar onde há falhas e fazer
melhorias duradouras em prol dos “culpados”.