terça-feira, 10 de março de 2020

Carnaval, vestibular e chuvas.


Um professor meu de direito tributário diz que a vida é cheia de incertezas, mas que às únicas certezas são a morte e o pagamento de imposto. A esse rol, tomei a liberdade de acrescentar as provas para as faculdades, o carnaval e as chuvas de inverno, mas estas últimas, sempre agradáveis para a natureza, mas nem sempre tão agradáveis àqueles em situação de vulnerabilidade social. Há poucos dias, o prefeito do Rio Marcelo Crivella atribuiu à culpa dos deslizamentos nas encostas dos morros em época de chuva, aos próprios moradores. Vamos lá, qual a função primordial do Estado? Nesse caso a falha está, mais uma vez, na educação - a falta dela -. Falo daquela de conscientização, campanhas alertando a população sobre os riscos nas encostas, através de folhetos, parcerias com escolas, igrejas e associações, afim de alcançar o maior número de pessoas e por fim, mas o início de tudo, àquela educação dos bancos escolares, pois se os moradores tivessem tido uma condizente às necessidades sócias, saberiam agir de forma diferente. É muito cômodo dizer que o “carro” perdeu e controle e bateu por culpa dos pneus, ao invés de atribuir a culpa ao “proprietário” do veículo que não fez a manutenção “periódica” do veículo.

Antes mesmo de coexistirmos com a natureza, as chuvas já eram (e são) o meio natural de renovação da vida nestas pradarias tropicais. A ocupação humana teve de se adequar à sazonalidade, caso quisesse viver em harmonia, mas esta preocupação tem sido esquecida pelas autoridades de nossas cidades. Ano vai, ano vem e é a mesma história: as chuvas deixam centenas de desabrigados e até levam vidas juntos com sua enxurrada.  Pode até presunçosamente pensar que isso é de agora, devido à ocupação desenfreada de morros, florestas e barrancas, que tem aumento, mas não é, não! Ainda esta semana ouvi a declaração de um grande jornalista que disse que essas catástrofes anunciadas acontecem há mais de 50 anos e os governos e prefeituras continuam a tratar como se fosse uma novidade: queda de barracos, enchentes nas cidades e o sofrimento dos desabrigados, os quais em muitos casos, não tendo onde morar, permanecem arriscando a própria vida em moradias nas encostas ou à margem de igarapés e braços de rio, os quais diante do grande volume das chuvas, transbordam e levam tudo o que encontra pela frente, de forma fria e natural que ela é, mas já ocorrem há muito tempo.
Sou da região Amazônica, onde as cidades são transpassadas por igarapés e braços de rio, cortando a cidade de ponta a ponta, mas nem mesmo por essa vantagem se está livre das intempéries que a estação das chuvas causa. E aqui também não é diferente. Todos os anos o governo tem de prestar ajuda aos ribeirinhos que têm de suas propriedades cobertas pelas águas. Governo e município se unem para prestar socorro às famílias, que passado o período, voltam a morar na mesma região, mas na esperança que no ano seguinte seja diferente, com chuvas mais fracas e alagamentos menores.
Essa catástrofe que assistimos hoje serão mais frequentes por conta do aquecimento global; ocupação desenfreada; ações sociais de curto prazo, do poder público para a população... Enfim, o ciclo não será quebrado se não se for levada a sério a educação desses moradores que residem nessas regiões mais frágeis às chuvas. E que essa educação se estenda a seus governantes, que ao invés de culparem os afetados, deveriam olha para seus “tentáculos” e detectar onde há falhas e fazer melhorias duradouras em prol dos “culpados”.

segunda-feira, 2 de março de 2020

O mundo está ficando muito chato.



Quase não se pode mais sorrir como forma de gentileza, para alguém em situação de vulnerabilidade social, pois este pode pensar que estamos rindo dele ao invés de para ele. Não podemos mais buzinar ou jogar galanteios a uma moça que a estamos assediando. Quase não podemos mais brincar com nossos amigos chamando-os de transviados que se alguém ouvir pode nos acusar de homofóbicos. É, meus amigos, o mundo se tornou um lugar muito chato.
Nos que nascemos na década de 70 estamos nos sentindo acuados, pisando em ovos em meio a essas “mudanças” que o mundo vem passando nos últimos 20 anos. Deus nos livre se alguém disser que um fulano é feio – ofensa que magoava os meus filhos quando tinham quatro anos de idade - , o mundo vem a baixo hoje, é um sacrilégio. Não existe démodé, agora é questão de estilo.
Um dia, passeando de carro, vi uma jovem de vestido e buzinei em tom de elogio ao corpanzil da moça. Quando o meu filho de 17 anos notou isso em casa, ele quase me colocava no canto da parede por 7 minutos - como eu fazia com ele quando este brigava com o irmão mais novo de três anos e ele, quatro anos – dizendo que era um desrespeito a ela, que ela tinha o direito de passear na rua sem receber cantadas. Eu: Cantadas ? Não sabia do valor agregado em um mero bibi.
Como cinquentão, temos hábitos que “xingar” nossos amigos, do que hoje é um desrespeito aos homossexuais, de bambi, boneca e assim por diante, os quais não guardam rancor pois sabem que é uma brincadeira e não se magoam por isso, que também nos xingam, e no final das contas vamos todos nós, os sensíveis, para nossas casas viver nossas vidas. Mas tudo isso é feito entre amigos e em tom baixo, pois se vazar a brincadeira, podemos ser acusados de homofóbicos, preconceituosos e assim vai.
Um mero canudo de plástico que utilizamos pode acabar com os sonhos de todas as crianças do planeta.
Enfim, se esta fase colerada de achar que tudo que se fazia antes era errado, acaba-se com o humor, com a paquera e com os amigos. Todos cercados por muitos, mas sozinhos, tristes, pois rir será crime. Mundo chato!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Obrigado Joaquim !

“Em nossos arquivos não constam registros que desabonem sua conduta”. Essa costuma ser a frase que os Recursos Humanos utilizam nas cartas de recomendação a outras empresas a respeito de funcionários de conduta ilibada. Pois bem, essa é a frase que eu utilizo para descrever a trajetória do Excelentíssimo Ministro Joaquim Barbosa no período em que fez parte da bancada do STF. Há aproximadamente dois anos, escrevi um ensaio a respeito do Ministro do STF (http://carlosatala.blogspot.com.br/2012/10/heroi-da-capa-preta.html), onde enaltecia sua trajetória, seu perfil e suas conquistas no cargo em questão. O herói da capa preta - como passou a ser chamado - devido a uma fotografia onde ele aparecia de costas trajado a toga preta peculiar a sua vestimenta de trabalho.
Hoje, 29 de maio, foi divulgado ao público, o pedido de aposentadoria de nosso justiceiro. A nós, meros mortais brasileiros que ainda levam no peito a centelha de que um dia tudo melhorará, lamentamos seu afastamento espontâneo.  Faço minhas as palavras do seriado Chapolin Colorado (personagem pastelesco de humor): “E agora, quem poderá nos ajudar?”. Sim, quem poderá?
Em meio a tantos desmandos da justiça que não está punindo quem deveria, não por falta de competência, mas por “infiltrados” da boina vermelha, os quais culpam tudo o que não é de seu agrado, inocentando aqueles que devem ser presos por não respeitarem os preceitos da justiça e ordem social e, inocentando – até nem julgando – os verdadeiros criminosos: corruptos, lobistas, empreiteiros, estrangeiros foragidos de seus países, surrupiadores e todos os seus afins; ele era a voz da justiça que banhava nossas esperanças de um dia melhor para o Brasil, quiçá o início do país do futuro, pois este presente, hum ! Todas as vezes que ouvíamos algo ou líamos sobre suas decisões, enchíamo-nos de orgulho e pensávamos: “esse é o cara” que veio para combater essa avalanche de absurdos que nosso país vem passando, como a morosidade nos julgamentos, super faturamento de obras, descaso com a população, leis que beneficiam a poucos e prejudicando a muito, situações absurdas que nos constrangem. Como disse uma amiga minha em tom de aflição: “por favor, estou desesperada por notícias boas, dêem-me”.  
Sua saída Ministro nos entristece, mas ao mesmo tempo, vemos que ainda existem pessoas de honra e caráter que hasteiam o preceito de retidão como bandeira e a leva às últimas instâncias – trocadilho apropriado. A partir de agora, serás sinônimo do que é certo, quando aparecer outra pessoas com sólidos valores de justiça, referir-nos-emos: aí está outro Joaquim Barbosa.

Obrigado Ministro !


Ass.: Pobre Brasileiro 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

" Bença pai! Bença mãe! "


“Bença pai! Bença mãe!” – Deus lhes abençoe meus filhos. Foi assim que abençoei meus filhos esta manhã antes de irem à escola. Eles sequer sabiam como receber a benção – beijando as costas da minha mão em retribuição a minha consagração -, pois fora a primeira vez que nos despedimos dessa forma, ao contrário do costumeiro beijo de bom dia na testa e a saudação: que Deus os abençoe meus amores.

Quando criança, por parte de pai (família paulistana), nas reuniões familiares, costumávamos a nos saudar com os populares dois beijinhos no rosto. Chegávamos à casa de meus avós e, ao ver todos os adultos sentados no sofá já pensa: “Caramba, é muita gente pra beijar!”. Costume salutar que até hoje cultivamos. Já por parte de mãe(família manaura), não. Ao encontrar meus tios, era de praxe pedir a famosa benção: “Bença tio! Bença tia!” e eles nos abençoavam com aquela ternura que, até hoje, me abençoam quando humildemente os reverencio.

Sou da geração Atari, meninos que já cresceram acostumados a modernidade, ao eletrônico, ao digital. Novos costumes foram adotados, mas sem nunca perder o respeito à máxima de que “devemos sempre respeitar os mais velhos”, entretanto, a invasão de outras culturas através da TV, revistas e outros meios, fez com que, ao longo do tempo, fosse esquecido esse hábito tão lindo, da forma tradicional com que nossos avós faziam: a benção e beijo recíproco nas costas das mãos.

Não diariamente, mas quando podemos, rezamos a cabeceira da cama de nossos filhos antes de dormirem, principalmente depois que um deles nos confessou que nas noites em que rezamos o sono é mais tranqüilo. A partir de então, quando não é o pai é mãe que reza.

Confesso que, por pura ignorância, fui relutante a essa forma de benção.  Talvez até por vergonha ou imaturidade patriarcal, não fui adepto a esse tipo tradicional de benção, mas hoje, ao ver nos semblantes de meus filhos um conforto ao receber a minha benção e uma postura típica: abaixarem as cabecinhas, fecharem os olhos e esboçarem um sorriso de satisfação. A partir de hoje, abençoá-los-ei pelo resto de meus dias, pois foi assim que fui criado e assim que serão os meus e seus filhos. Não tenho dúvidas: a benção de um pai ou mãe é a certeza que o caminho será menos árduo em suas andanças. 
Que Deus abençoe a todos!  

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Madre "Caminha" Teresa de Calcutá.


Se a “Carminha” (vilã de Avenida Brasil) apesar de ser filha de quem é (Santiago, outro vilão da trama), tivesse sido criada em um monastério, mesmo assim ela seria uma mau caráter? Podemos dizer que um indivíduo de pais desprovidos de oportunidade de estudo não terá êxito profissional? Segundo Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 1712 — 1778) o homem é fruto do meio, o qual o influencia e o molda segundo sua tendência. Mas será mesmo?
Para os desavisados, a teoria de Rousseau soa como uma máxima para justificar o comportamento humano diante de escândalos sociais e morais que abalam a opinião pública. No folhetim Avenida Brasil, muito se julgou a vilã Carminha (Adriana Esteves) pela sua falta de escrúpulo, sua ambição exacerba e seu deboche aos valores que nós (a sociedade) julgamos fundamentais, dentre eles: religião, família, moralidade e filantropia. Próximo ao final da trama, fatos sobre a vida pregressa da vilã foram sendo revelados: infância sofrida, abuso moral e corporal por parte de seu próprio pai. Muitos poderiam dizer que ela foi uma vítima do sistema, mas quantas pessoas conhecemos ou sabemos da história, que passaram pelas mesmas agruras, não se rendendo a situação e estão aí para dar seu depoimento(?).
O filósofo inglês John Locke, em meados do século XVII, comparou a mente humana a uma folha de papel em branco que, ao longo da vida, é preenchida pelas experiências individuais, a cultura por ele acumulada e a educação a qual foi submetido. Apesar do grande intervalo de tempo entre uma descoberta e outra, a ciência vem acumulando vitórias nesse embate, através de provas cabíveis e demonstrações empíricas que a perpetuação da espécie só acontece devido a carga genética que os descendentes trazem de seus ancestrais – a Evolução das Espécies de Charles Darwin -, todavia, já no século passado, os cientistas James Watson e Francis Crick descobriram a estrutura que forma o DNA e, no início deste, com o início das pesquisas para desvendar o emaranhado genético do homem – Projeto Genoma Humano – derrubou-se por terra a idéia da folha em branco de Locke, de que o homem é apenas fruto do meio.
Um exemplo bem próximo a nossa realidade está acontecendo na Inglaterra. Um fazendeiro teve a idéia de criar raposas selvagens como animal de estimação. Foi pego um casal de raposas mansas, que passaram a procriaram e gerar descendentes. O resultado, até o momento, é uma nova espécie com faixas brancas nas costas, mais sociáveis e adaptados a vida in door, mas não deixaram de ser raposas.
Coube a Neurociência a tarefa de descobrir, através de testes de campo com seres humanos, que o aprendizado sofre forte influência biológica do desenvolvimento do sujeito. O fato de um indivíduo se comportar com mais desenvoltura ou acanhamento, ser mais focado ou disperso, são características 50% de ordem genética, vindo dos pais. Enquanto que a agressividade, no tocante a tudo a que ela envolve, a parcela de “culpa” dos pais seria da ordem de 80%, ficando os 20% a cargo a educação e das experiências as quais o indivíduo foi exposto. Infelizmente, tal conclusão pode soar como fator de exclusão social, pois se pode afirmar que, filhos de estudiosos, inteligentes serão e, filhos de meros espectadores, o não; entretanto, a fim de desmistificar esse conceito errôneo, uma ramo da ciência, a epigenética, buscar identificar os fatores externos que ativam os genes bons, para acioná-los e, os maus, para suprimi-los, mas pelo andar da carruagem, serão necessárias alguns gerações a frente para confirmar tal relação.    
Desta feita, podemos afirmar que se Albert Einstein tivesse nascido na Etiópia ele teria desenvolvido a fórmula da relatividade, independente dos estímulos? Nunca saberemos, contudo, a partir do que fora postulado pela ciência, em resposta a pergunta inicial, a resposta seria, não.  A Caminha seria uma moça de virtude, temerosa às leis de Deus e respeitosa ao julgamento dos homens. A ciência explica.

domingo, 7 de outubro de 2012

Herói da capa preta


A inevitável analogia a um herói de quadrinhos muito conhecido: O herói de capa preta e empunhando a espada da justiça em favor da ética, bons costumes e a missão honrosa de mostrar que a justiça é para todos: desde o larápio que rouba guloseimas na estante do supermercado até o Presidente de uma nação, a qual ainda acredita na justiça dos homens, onde cada um é responsável por aquilo que fez de certo ou deixou de fazer.
A Joaquim Barbosa, Ministro do STF(Supremo Tribunal Federal), relator do processo do Mensalão, não vou fazer alusões obvias a respeito de sua etnia, a qual não é fator determinante para que alguém seja desprovido de regalias, apenas pelo fato de ter uma cútis menos clara, um cabelo menos liso e demais “diferenças”, mas sim, da persistência de alguém que apesar de estar inserido em um meio, a princípio desfavorável, não se rendeu a situação.
A postura do Ministro (com “eme” maiúsculo) está trazendo  de volta, a todos nós brasileiros, a idéia há muito pregada por nossos pais, de que os criminosos  tem de ser julgados, condenados e punidos de  acordo com o grau de seus atos. Não é à toa que a efígie da justiça é representada por uma mulher com venda sobre os olhos, uma balança em uma mão e uma espada em outra, sinalizando que com àquela se pesa o direito e com a espada o defende, pesando sobre a cabeça do culpado a lâmina da verdade decepando-a e confirmando a ponderação ao avaliar os indivíduos e a justeza das decisões na aplicação da lei.
O julgamento do século, como tem sido chamado o julgamento do Mensalão, está nos dando um fôlego nesse ambiente tão cheio de impunidade que vivenciamos hoje, onde todos fazem o que bem entendem e não pagam por seus erros. Onde se enaltece o bandido esperto que rouba do estado em benefício próprio e os homens honestos são taxados de idiotas, lesos, otários por não fazerem parte da idéia deturpada, contrária a premissa de que servidor público é para servir ao público e não em causa própria. Desde pequeno, a Joaquim Barbosa fora vendida a idéia de que as minorias teriam de se comportar a margem da sociedade, onde pedir seria a única chance de se amealhar bens, pois os adquirir por méritos próprios seria um sonho. Isso fica bem claro quando nas festas o então garoto Joaquim Barbosa teria de ficar no fundo do salão de festas para não chamar a atenção e não pedir nada, apenas aceitar quando lhe fosse oferecido – relatos de Veja na edição de 10/10/2012.
Quão grande e importante é o trabalho que o Ministro vem desenvolvendo, que as Força Armadas, por iniciativa própria, deslocaram um pelotão para garantir a segurança do mesmo. Episódio que causou certo desconforto, pois não passou pelo tramites legais, onde tal iniciativa tem de ser solicitada aos superiores do executivo antes de serem tomadas. O ministro das Força Armadas não fora informado de tal iniciativa, assim como a Presidente - não que mesma se opusesses -, que não foi a primeira a saber da empreitada militar.
Sinto-me orgulhoso e motivado ao conhecer um pouco da trajetória da vida do Ministro e saber que, apesar do meio ser um dos fatores que influenciam na formação do indivíduo, ele não se curvou às intempéries e (des)agruras da vida e, hoje, está dando um ar de esperança que todos almejamos: Uma justiça plena, independente de facção políticas, colarinhos e demais benesses que o volume de capital propicia. Vai Ministro Joaquim Barbosa! O Brasil de homens honestos está contigo e, que a justiça seja feita.

domingo, 24 de outubro de 2010

UMA DEDADA DE PROSA

Às vésperas de meus quarenta anos. Encontrei um texto muito pertinente ao que me espera. Leiam só:

Aos adeptos de novas possibilidades, um momento de reflexão!

UMA DEDADA DE PROSA
Claudio Manuel (Turma do Casseta e Planeta)
Revista Alfa
Papo Reto
Vamos conversar sobre algo bem profundo. Para muitos, um tema delicado, que necessita de um toque mais sutil para ser abordado com tranquilidade. Para outros, ainda tabu, uma questão onde ninguém mete o dedo e muito menos outras coisas: o tal "fio terra". Há também, claro, aqueles que estão totalmente plugados com as novas tendências e de, tão plugados, já não estranham mais nada. Para esses, importante mesmo é sempre estar na vanguarda do seu tempo, mesmo que alguém cutuque, sem aviso ou consulta, a retaguarda.
Não estou aqui para tomar partido. Afinal, em tempos de metrossexualismo galopante, temos que refletir muito, analisar a maior quantidade possível de variáveis, ver os mais diversos aspectos para podermos estar bem abertos (epa!), antes de tomarmos uma posição (epa! opa). O "fio terra" é uma viagem sem volta? Pode viciar e levar a "fios terras" mais pesados e volumosos? É obrigatório? Um dia vai ser? Se você não topar e reagir urrando como um ogro bronco e primitivo diante de uma investida, não vai comer mais ninguém? Para recusar esse procedimento invasivo, pode-se alegar problemas, digamos de "fundo nervoso"?
Não tenho as respostas, não sei se alguém as tem. No entanto, mesmo sem elas, podemos chegar a alguns conceitos que podem nos ajudar a atingir um consenso mínimo que evite o esgarçamento e, principalmente, o esgarçamento do tecido social. Um assunto polêmico como esse requer uma abordagem especial, sempre de leve, devagarinho, pelas beirolas... Ops, quero dizer, pelas beiradas.
Se você é uma mulher que quer ser muderna, que quer viver o século 21 em sua plenitude e, para isso, resolveu introduzir o (no) seu parceiro nessa "inclusão digital", precisa tomar alguns cuidados, além de cortar a unha, é claro. Primeiro: tem certeza mesmo? Quem foi que disse que sempre é bom descobrir novas fronteiras? Você não acha que certos locais podem continuar intocados e preservados para sempre, como em Avatar? Não chega a ser até ecológico e politicamente correto manter certas áreas isoladas, intocadas, inexploradas sem nada, a não ser o chuveirinho, chegar perto?
Bom, se mesmo adotando a tática "salvem o planeta"... E a minha tarraqueta!..., seu marido (ou similar) ainda não conseguiu frear seu interesse em desbravar as regiões menos ensolaradas dele, lembre-se: ele tem direitos constitucionais. O direito à propriedade privada - ainda mais de uma parte cuja propriedade é tão privada - é inalienável. Ou seja, só se pode ir ali com convite.
Mas se você é daquelas que não está nem ai para todo esse chororô e, de maneira revanchista, pensa em instaurar uma ditadura do "fioterrismo" para ir à forra dos séculos e séculos onde os homens machistas nunca perdiam os dedos e sempre exigiam os "aneis", pense, ao menos, no aspecto, vamos dizer, econômico da coisa: você já mediu bem a relação custo-benefício, ou melhor... A relação susto-orifício da coisa?
Antes de tomar uma decisão tão visceral, não seria melhor, sei lá, conhecer a vizinhança, o entorno, antes de partir direto para a visita do centro histórico? No mínimo, você deve ir chegando bem no sapatinho, como uma experiente indigenista fazendo contato, pela primeira vez, como uma tribo que pode ser hostil. Afinal, pimenta, mesmo que seja dedo de moça, no dos outros não costuma ser refresco. E se refrescar demais da conta... Você vai ou não vai ficar desconfiada do cabra?